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Olhos Profanos

Série Lembranças de Vale Veneto
Lembranças de Vale Vêneto
Série Lembranças de Vale Vêneto
Série Lembranças de Vale Vêneto
Série Lembranças de Vale Vêneto

Série Lembranças de Vale Vêneto
Acrílico Sobre MDF
52x110 cm
2003

Série Lembranças de Vale Vêneto

Série Lembranças de Vale Vêneto
Acrílico Sobre MDF
110x180 cm
2003

“É possível ver o invisível.
O visível está povoado de invisíveis.
Vidente é aquele que enxerga no visível,
sinais invisíveis aos nossos olhos profanos (...)

Marilena Chauí
(Janelas da Alma, Espelho do Mundo - 1998).

  Às vezes, vejo estes sinais invisí­veis, e através da pintura tento de torná-los visíveis. Mesmo com os olhos cheios de “cimento e lágrimas”. Acredito que o primeiro olhar sobre todas as coisas tem que ser um olhar selvagem. Daquele que não classifica, não rotula. Vê as sombras e as luzes, os contrastes e a harmonia, e assim, estabelece uma transparência, um deixar-se enxergar além. O olhar seguinte tem que ser mais refinado, daquele que lê na entrelinha e procura significados invisíveis aos olhos profanos.


  E que significados busco? Para saber, tive que desnudar a alma, desamarrar o corpo e montar os fragmentos. Como disse Nejar, precisamos de “insolúveis áreas de coragem”, para saber quem somos, tirar as máscaras na frente do espelho e com uma pequena pá remover camadas. “Não somos apenas o que existe. Há camadas que guerreiam. Também o que não existe somos” (Carlos Nejar). E nesta busca do ser e do não ser, tento estabelecer contato.


  Possuir novos olhos, olhar algo tão familiar como se fosse a primeira vez, será este o grande o grande segredo da arte: Possuir olhos estrangeiros?


  Uma das funções da arte é nos afastar da realidade para nos entranharmos ainda mais nela, e nos obriga a um reconhecimento das coisas invisíveis, coisas que não vimos antes.

 

  A paisagem da minha memória é subterrânea, labiríntica, macunaímica; formada de retalhos, feita de inesperados detalhes do espaço e janelas que se abrem para um tempo anterior que servem de chaves para reabrir o meu passado. Acredito que Vale Veneto foi, e ainda é uma espécie de caminho para o quintal da minha casa. Como disse Lia Luft, “estou no coração de um ciclo que se fecha.”


  Qual é a minha paisagem? Ao responder isso, vi que me escondia atrás das montanhas de Vale Veneto, emprestava de lá uma memória que não era a minha.


  Percebi que Vale Veneto não me pertencia. Com isso, senti a necessidade de procurar a minha paisagem.

 

  E pergunto: em ponto a paisagem de Vale Veneto escondia a “minha paisagem verdadeira”? Qual é o ponto de encontro entre as duas? Infelizmente ainda não tenho estas respostas, ou melhor não as tenho de maneira clara.


  Descobri algumas pistas. Possuir novos olhos, olhar algo tão familiar como se fosse a primeira vez, será este o grande segredo da arte: Possuir olhos estrangeiros?

 


Santa Maria, fevereiro de 2003.

© 2021 por Walkyria Novais

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